Conferência com participação da Lusófona

Conferência sobre Educação de Cinematografia, com a participação da Universidade Lusófona

No último mês de abril de, realizou-se em Bruxelas a 3ª Conferência Internacional sobre o ensino e a pesquisa sobre imagem cinematográfica.

A Conferência teve lugar nos Institutos RITCS (Instituto Real de Teatro, Cinema e Som), na  INSAS (Institut national supérieur des arts du spectacle et des tecniques de diffusion), e no Cinema Palace em Bruxelas.

A conferência denominada “Cinematography in Progress” foi organizada pela Federação Internacional de diretores de fotografia - IMAGO e pela Associação Belga - SBC em associação com os dois citados institutos e da Universidade Lusófona. 

Na organização estiveram Ella van den Hove em representação da INSAS, Marijke Van Kets, da RITCS e Tony Costa em representação da Universidade Lusófona e presidente do comité para a Educação da Federação Internacional IMAGO. 

A conferência segundo a organização foi um grande sucesso com a participação de noventa pessoas inscritas vindas de diversos países. Estiveram 30 nacionalidades presentes na conferência que durou três dias. 

A conferência foi constituída por 3 partes desenvolvidas ao longo dos três dias, apresentação de diversas comunicações, poster sessions e mesas-redondas temáticas.

O principal objetivo da conferência foi discutir entre os colegas que ensinam imagem a melhor forma de educar os futuros cineastas, considerando especificamente as tendências atuais da cinematografia e na aplicação no futuro.  

Durante a conferência falou-se de fluxo de trabalho HFR / HDR; Pensamento Cinematográfico; Ensino Alternativo e Ensino e Prática; comunicações diversas transversais que incidiram em diversidade de género, pesquisas de doutoramento, apresentações de experiências práticas na alteração das cores e perceção e acima de tudo a organização de seis mesas-redondas para partilhar pensamentos, experiências e práticas.

Os tópicos das mesas redondas. 

I Cinematografia Emergente:

II Ensinar os fundamentos da Cinematografia através do uso de película. 

III Da prática artística à pesquisa académica.

IV Novas ferramentas pedagógicas e sistemas didáticos para ensinar cinematografia.

V Como usar o conhecimento digital prévio dos alunos para ensinar cinematografia?

VI Métodos de ensino sobre responsabilidades e deveres do diretor de fotografia.

MESAS REDONDAS - CINEMATOGRAFIA E ENSINO.

I Cinematografia Emergente:

Como se pode ensinar a cinematografia num mundo totalmente digital? Este assunto gerou um debate em particular em definir quem efetivamente tem o controlo final da imagem. 

É realmente importante continuar a ensinar técnicas e técnicas de cinema tradicional, incluindo efeitos especiais analógicos, como fazer efeitos de iluminação física e efeitos diretos na câmara em vez de se sujeitar apenas aos efeitos digitais criados em pós-produção. Desta forma os alunos têm uma maior perceção na construção da imagem e do efeito. 

Há necessidade premente de desenvolver a relação entre o diretor de fotografia (o que capta a imagem) e departamento de efeitos visuais de forma a aproximar cada vez mais o diretor de fotografia do futuro à imagem computacional de forma a ter o controlo de todo o processo criativo da imagem. Para o levar a efeito as universidades precisam incorporar no programa de ensino de imagem os efeitos visuais. É realmente importante colaborar com VFX, ciência da computação, jogos e animação, mas também repensar o pipeline de produção: modelo de programação ágil e pré-visualização para correção de cor.

Mas é preciso não perder de vista nesta miríade tecnológica o sentido central que são a narrativa, enquadramento, movimento e emoção.

É necessário repensar o que um diretor de fotografia faz, os processos de ensino e investigar como incorporar as novas formas emergentes de criação de imagens. Idealmente, os diretores de fotografia devem de se envolver na pré como na pós-produção para garantir que mantêm a custódia da imagem e a sua autoria.  (embora as práticas do mundo real frequentemente não permitam isso).

 

II Ensinar os fundamentos da Cinematografia através do uso de película? 

Os participantes foram convidados a dar uma palavra para responder positiva ou negativamente a esta pergunta que eles responderam que era necessário para incutir disciplina, rigor, pensar a imagem, compreensão dos princípios de captação, criação estética e ter responsabilidade.

Um terço dos participantes ainda utilizam película na sua escola para fins pedagógicos mesmo com infraestruturas deficientes ou inexistentes nos seus países nomeadamente o serviço de revelação de negativo. 

III Da prática artística à pesquisa académica.

As metodologias tradicionais de pesquisa para efeitos de avaliação para graus de doutoramento na área da imagem cinematográfica são aceites pela generalidade das universidades, ao invés das pesquisas empíricas onde os trabalhos práticos são necessários para produzir matéria de pesquisa que ainda é visto por algumas universidades com algum ceticismo, algumas delas não aceitam. Esse é um aspeto que tem tendência para mudar com o número crescente de doutorados na área da imagem cinematográfica, o que virá trazer uma alteração  enquanto que as que envolvam situações práticas e de pesquisa empírica ainda não são aceites pela generalidade das universidades. Mas porém, com o número crescente de avaliadores com o grau de doutor esta situação está a alterar-se consideravelmente e daí ser importante aprofundar a pesquisa na área e considerá-la como disciplina de estudo académico no seio do ensino das artes. 

IV Novas ferramentas pedagógicas e sistemas didáticos para ensinar cinematografia (sala de aula, autoavaliações e avaliação ...)

De uma maneira geral todos os professores que estavam presentes usam a mesma metodologia de ensino. Ora de forma tradicional ou através de processos e-learning, flip-classes, intercâmbios entre pares, workshops e exercícios práticos em aula ou em sessões extracurriculares acrescentadas ao programa das respetivas cadeiras.

Um aspeto apontado também transversal a todos os docentes é relativo à não compatibilidade do tempo de horário para cada sessão de ensino da cinematografia. As universidades de ensino superior, ao invés das escolas regulares de cinema (politécnicos), o horário disponibilizado e repartido com outras cadeiras não é no ponto de vista dos professores adequado ao ensino da cinematografia e em particular do cinema no seu todo. Para além do nº excessivo de alunos onde foi apontado um caso com 200 alunos, com um horário semanal de 3 horas.  

Parece que a questão principal não está necessariamente entre professores e alunos, mas com a calendarização e restrições académicas dentro dos vários quadros e programas pedagógicos que mudam regularmente.

Outro tema focado nesta mesa-redonda foi a mentalidade atual e atenção que o aluno presta nas aulas. Estudantes exigentes, chamados geração Z ou “geração easyjet”, com uma incrível vontade de aprender, mas impacientes, exigem respostas imediatas sem atender a necessidade de compreender o básico.  O tempo e capacidade de concentração é muito curto e complica em muito a ação do docente.

Deste encontro saíram também algumas recomendações como por exemplo a necessidade de se construir um diálogo próximo entre professor e aluno:

Informar e consciencializar os alunos sobre falsas expectativas no seu futuro profissional e indicar os caminhos possíveis para os ultrapassar. Prepará-los para a pressão social e profissional a que serão sujeitos que se inicia desde logo na universidade face às muitas tarefas e projetos escolares que precisam cumprir simultaneamente. Precisamos perguntar-lhes: como se sente? Está ciente de que seus sonhos podem não ser alcançados? Consegue gerir a frustração imediata? Aceita a palavra não? Consegue administrar a pressão na escola? A concorrência entre os alunos, as metas de avaliação e a pressão de entrega de trabalhos são extraordinariamente stressantes o que podem deixá-los extremamente desapontados.

Recomendações:

Não se deve intensificar a competição com avaliações muito complexas. Precisamos escolher as palavras certas quando falamos de fracasso. Temos que compartilhar nossos próprios fracassos e experiências de maneira aberta.

Coloque as coisas chatas na nuvem: grupos maiores precisam de um LMS (Learning Management System) sólido e poderoso, como o Canvas, ou de uma plataforma pedagógica específica para escolas. 

Deixar os alunos avaliarem seu próprio trabalho: o processo de aprendizagem é muito mais eficaz quando eles corrigem os próprios erros. Construir uma comunidade de alunos: os alunos se tornam professores-colegas, os alunos ensinam professores.

Ensinar os alunos a trabalhar em grupo, como tripulação: formando aleatoriamente grupos porque, na indústria, trabalhamos não necessariamente com pessoas de quem gostamos e trocamos de emprego em grupos durante os projetos da escola.

Feedback e avaliação:

Use peer-review e speed / auto-grader como poderosas ferramentas de avaliação.

 

V Como usar o conhecimento digital prévio dos alunos para criar a cinematografia?

As alunos da geração atual pretendem saltar etapas no percurso do seu ensino. Não olham à hierarquia na carreira como sendo uma virtude porque se sentem à vontade com a arquitetura digital e aprendem rapidamente a usá-los e por isso são críticos do nosso ensino: A nossa experiência profissional parece não se encaixar nas suas futuras aspirações.

Quais as estratégias que podem ser aplicadas?

É necessário aprimorar as suas habilidades e para que aprendam os alicerces da imagem cinematográfica, sugere-se o curso "crash". Deixar os alunos encontrarem o seu próprio caminho, com seus próprios conhecimentos, para obter os resultados desejados e, em seguida, mostrar-lhes os erros e comparações. 

VI Métodos de ensino sobre responsabilidades e deveres do diretor de fotografia

É difícil generalizar as responsabilidades do diretor de fotografia. Existem regras básicas (que podem ser aplicadas em larga escala), mas tudo depende do projeto. Por exemplo, dependendo do tipo de produção (projetos de pequena escala versus projetos maiores) os deveres serão transferidos e os estudantes deverão ser informados sobre como funcionar / se comportar dentro desse esquema específico de produção.

Alguém poderia argumentar que a responsabilidade deveria ser um senso comum. Poderia ter como origem a educação básica. Ninguém pode ensinar um aluno a ser responsável. Os alunos saem de um sistema escolar e devem aprender por conta própria posteriormente. Então, o que deve ser ensinado nas escolas de cinema?

A responsabilidade técnica é bastante clara na maioria das escolas de cinema, e definida em geral dentro do quadro pedagógico. O conhecimento técnico raramente é um problema, os alunos já sabem muito sobre as últimas tecnologias através de todos os canais digitais reais. A parte menos definida é a responsabilidade artística. Continua a ser um ponto de discussão. Não há nada de errado com os vários tipos de formatos de saída de hoje em relação a uma produção audiovisual. O papel do diretor de fotografia será definido também regionalmente. Alguns países consideram que o diretor de fotografia é um autor das imagens, mas também coautores do filme, enquanto em alguns países eles são “apenas” técnicos.

Comunicação

A comunicação lida com a responsabilidade dos recursos humanos: o diretor de fotografia não está sozinho no set, ele trabalha dentro de uma equipa e essa equipa deve ser gerida de maneira justa. A maioria dos alunos sai da escola com um ego superdesenvolvido. Começar a trabalhar no set deve ser apenas a próxima parte do processo de aprendizagem. A resiliência deve ser apreendida pela experiência.

Qual idioma deve ser usado para garantir que haja um entendimento geral no set? Todos podem ser ou se sentir como um realizador, mas ninguém sabe como se comunicar com os outros. Hierarquia, o fluxo de trabalho deve ser aprendido muito rapidamente para não se sentir perdido. Respeito, escuta e comunicação próxima são as palavras-chave. Parte disso é a educação geral, o restante deve ser ensinado na escola.

O papel das organizações do setor / organismos nacionais

Organismos nacionais / federações do setor devem ser mais envolvidos durante os anos de estudo e devem ser um recurso certificado para todos. Recursos sobre as condições atuais de trabalho, freelancer, legislação, direitos do criador,… estão amplamente disponíveis, mas são desconhecidos para a maioria. E talvez esses tópicos devam ser ensinados não por cineastas, mas por especialistas.

Interferência ideal com outros departamentos

Qualquer pessoa que esteja a estudar cinematografia deve saber mais sobre os outros cargos / outros departamentos e sobre as outras responsabilidades que aparecem durante o processo de produção. Um envolvimento mais amplo na pré-produção, script, post… está a tornar-se crucial. Os alunos devem ser capazes de identificar quais são os principais momentos durante um processo de filmagem. 

Responsabilidades com o equipamento

Professores e profissionais notaram mais perdas, mais defeitos. É falta de habilidades mecânicas? Se o equipamento for mal utilizado com negligência, partido, perdido, vai muito além da economia, toda a escola de cinema (outros clientes) sofrerá com os estragos e retardará o fluxo de trabalho dos demais: respeito! (novamente).

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