Projeto Crescine apresenta resultados
Investigação no âmbito de projeto Horizon Europe liderado pela Universidade Lusófona dedicado à competitividade das indústrias cinematográficas dos países europeus, releva que Portugal lidera em número de salas de cinema e em número de filmes estreados, mas que os filmes nacionais continuam a ter uma baixa quota de mercado e dificuldades em penetrar mercados externos.
Os filmes dos pequenos países produtores de cinema, como Portugal, enfrentam forte concorrência na guerra das audiências. Esta circunstância afeta o tipo de filmes que são produzidos e o que vemos nas salas de cinema. O projeto de investigação "CresCine" (financiado pela Comissão Europeia através do programa Horizon Europe) investiga os pontos fortes e os desafios das indústrias cinematográficas dos pequenos países europeus com o intuito de as tornar mais competitivas e robustas.
Portugal: um país de cinemas, mas onde o seu cinema é ainda pouco visto
De entre os sete países/regiões estudados no âmbito do projeto CresCine, Portugal regista dos mais elevados números de estreias e de salas de cinema. Ainda assim, os filmes portugueses possuem uma quota de mercado residual (uma das mais baixas da Europa) e têm dificuldade em encontrar janelas de exibição comercial no estrangeiro. As plataformas de VOD representam uma oportunidade e uma alternativa à exibição tradicional. As comédias portuguesas, apesar de produzidas em menor número, possuem uma popularidade desproporcional, quando comparadas com os filmes categorizados dentro do segmento de “drama” – que predominam, contabilizando cerca de 85% da produção entre 2014 e 2022, de acordo com o relatório "Small European Film Markets: Portraits and Comparisons". Por exemplo, seis dos oito filmes mais populares deste período, em Portugal, são comédias.
Os desafios dos pequenos mercados produtores de filmes na Europa em exame:
O projeto Europeu "CresCine" investiga as indústrias cinematográficas de diversos países e os desafios enfrentados pelos pequenos mercados produtores de filmes na Europa. Manuel José Damásio, da Universidade Lusófona, lidera o projeto, que é financiado pelo programa de investigação Horizonte Europa da União Europeia (Grant: 101094988). O ponto de partida do projeto “CresCine” é a importância económica e cultural das indústrias cinematográficas locais em sete pequenos países e regiões: Irlanda, Dinamarca, Estónia, Lituânia, Portugal, Croácia e Flandres, na Bélgica. O novo relatório de investigação do projeto, intitulado "Small European Film Markets: Portraits and Comparisons" faz uma súmula do desenvolvimento destes países e dos seus mercados, no período compreendido entre 2014 a 2022, considerando factores como o volume de produção, os padrões de financiamento, a disponibilidade em catálogos VoD e as bilheteiras.
Sete mercados muito diferentes numa altura de mudança na indústria cinematográfica
O que os sete mercados têm em comum é um público doméstico demasiado pequeno para sustentar uma indústria cinematográfica local. O que os difere são as suas estratégias para enfrentar este desafio fundamental. Jakob Isak Nielsen, da Universidade de Aarhus, que tem estado a dirigir o relatório, explica: O relatório sugere que as indústrias seguem diferentes formas de orientação, muitas vezes combinadas: "ressonância cultural", exportações, serviços de produção e arte cinematográfica. Cada orientação é acompanhada de uma forma diferente de legitimidade, como a relevância cultural nacional, as vendas ao estrangeiro, o binómio criação de emprego-PIB e o reconhecimento artístico."
A escolha dos mercados abrangidos pelo projeto reflecte não só diferentes posições geográficas, mas também culturas cinematográficas muito diferentes. Os países bálticos, por exemplo, assistiram a uma enorme transformação da sua produção cinematográfica e das suas infra-estruturas de cinema após o fim da União Soviética. A Irlanda e a Croácia desenvolveram uma economia de serviços de produção significativa, atraindo para o país produções estrangeiras como The Hitman's Wife's Bodyguard (2021). O relatório também revela diferenças no que respeita ao reconhecimento dos festivais. De acordo com Marius Øfsti, da Universidade de Aarhus: "A Dinamarca e a Flandres tiveram recentemente produções com grande aclamação da crítica e exportação internacional, como o vencedor de um Óscar, Another Round (2020), ou Close (2022), que ganhou o Grande Prémio em Cannes".
O relatório traça o desenvolvimento dos sete pequenos mercados ao longo de um período que assistiu à expansão dos serviços globais de streaming, ao impacto da pandemia de Covid-19 e à recessão económica na produção cinematográfica e nas salas de cinema. Cathrin Bengesser, também da Universidade de Aarhus, explica que, apesar de os filmes de pequenos países estarem muitas vezes bem representados nos serviços VoD locais, "a maioria dos serviços de streaming que operam a nível mundial, como a Netflix, não apresentam uma grande variedade de filmes de pequenos mercados. Isto é um problema porque as escolhas dos líderes de mercado afectam a diversidade da cultura cinematográfica a que o público europeu tem facilmente acesso".
Os maiores mercados produtores de filmes na Europa estão mais estrategicamente orientados para a exportação
Ivana Kostovska, do imec-SMIT-Vrije Universiteit, em Bruxelas, investigou a exportação de filmes dos "cinco grandes" mercados europeus e da Polónia nos principais territórios de exportação e descobriu que "embora a França seja o maior exportador de filmes em comparação com os outros mercados da UE estudados, em termos de número total de bilheteira, os filmes da Irlanda e da Flandres obtiveram uma média market share nos EUA mais elevada do que os filmes franceses". A análise dos padrões de exportação mostra também que os grandes mercados que estudámos têm normalmente parceiros de produção mais diversificados do que a maioria dos pequenos mercados. Com base na análise dos "cinco grandes" mercados e da Polónia, Kostovska e as suas colegas Ulrike Rohn e Ana Falcon, da Universidade de Tallinn, concluem que os grandes mercados estão muito mais orientados em termos de estratégia para a exportação do que a maioria dos pequenos países.
No entanto, os filmes dos EUA dominam o panorama cinematográfico europeu. Ana Falcon, da Universidade de Tallin, salienta que "a forte orientação dos filmes norte-americanos para os franchisings impulsiona o seu sucesso nas salas de cinema europeias. 87 dos 100 filmes americanos mais vistos nos 13 mercados europeus que estudámos baseavam-se em propriedade intelectual existente".
Acesso ao relatório “Small European Film Markets: Portraits and Comparisons”
O site https://www.crescine.eu/small-film-industries apresenta informações pormenorizadas sobre os sete pequenos mercados cinematográficos. O núcleo do relatório são as suas 67 visualizações de dados interactivas, que oferecem aos utilizadores a possibilidade de personalizar as comparações de mercado e acompanhar as tendências. Segundo Jakob Isak Nielsen, da Universidade de Aarhus: "O relatório foi concebido para profissionais das indústrias cinematográficas e decisores políticos. Permite o acesso a dados relevantes sobre produção, distribuição, exibição e receção de filmes num único local. Dá ao leitor a oportunidade de comparar facilmente a situação nos diferentes mercados". É possível aprofundar os retratos de cada pequeno ecossistema cinematográfico e é possível saltar diretamente para as principais conclusões. É, ainda, possível comparar indicadores de desempenho em toda a cadeia de valor da produção cinematográfica. O site também compara os sete pequenos mercados com seis mercados maiores, centrando-se no posicionamento estratégico, na exportação de filmes, nos catálogos VoD, no desempenho dos filmes no Netflix e nos prémios em festivais.
Mais informações sobre o projeto de investigação CresCine
O projeto de investigação "CresCine" teve início em 2023 e decorrerá até 2026. É financiado pelo programa de investigação Horizonte Europa da União Europeia (número de subvenção: 101094988). O projeto respondeu ao convite da Comissão Europeia para investigação sobre o potencial das Indústrias Culturais e Criativas como motor de inovação e competitividade na Europa. O projeto recebeu 4 milhões de euros. O consórcio é constituído por 16 organizações de investigação e indústria de 10 países. Mais informações sobre as organizações participantes e os resultados do projeto podem ser consultadas em www.crescine.eu.
Contatos
Contatos acerca da performance do Cinema Português
Manuel José Damásio, Universidade Lusófona, mjdamasio@ulusofona.pt
André Rui Graça, Universidade Lusófona, andre.graca@ulusofona.pt
Contatos acerca de questões sobre o relatório “Small European Film Markets”
Jakob Isak Nielsen, Aarhus University, jakobisak@cc.au.dk, +4530587398
Cathrin Bengesser, Aarhus University, cbengesser@cc.au.dk, +4593522071
Contato para questões sobre o projeto
Manuel José Damásio, Universidade Lusófona, mjdamasio@ulusofona.pt
Leticia Morais, Storytek Innovation and Venture Studio Tallinn, leticia@storytek.eu
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