Exercício de autoretrato - Lucía Alonso Garrido

Lucía Alonso Garrido

  • Atelier de Realização e Produção Cinematográfica, Mestrado Estudos Cinematográficos

É necessário afastar-se para compreender o que está perto. No exercício de me afastar do conhecido pude começar a compreender as minhas próprias raízes. A distância da terra natal me ofereceu a possibilidade de um novo olhar sobre mim enquanto indivíduo e sobre meu povo.

As lembranças foram ressignificadas através de seu afastamento, tal como um organismo vivo capaz de manifestar-se e mutar-se ao longo de sua trajetória.

O regresso às minhas origens representa o início de um novo ciclo onde passado e presente se misturam gerando o novo.

A Galiza é uma terra onde reina a natureza. Rodeada por dois mares, se caracteriza pela sua diversidade natural onde se assentaram diversos povos ao longo de sua história, entre eles os Celtas de quem nós galegos herdamos muitas de suas tradições. O povo celta acreditava na existência de um princípio espiritual que relaciona a alma com tudo o que existe, sejam animais, plantas ou fenômenos naturais.

As tríades da vida em eterno movimento e equilíbrio, nascimento-morte-renascimento; corpo-mente-espírito; céu- mar- terra são então representadas pelo Triskle, um antigo símbolo celta. Este símbolo é um dos mais presentes na arte desta cultura, retratando também a fluidez do movimento, da ação, do progresso, dos ciclos e do crescimento.

A natureza é objeto do folclore e da arte com atribuições significativas sobre suas variadas manifestações. Seguindo os princípios da simbologia celta em paralelo com as formas da natureza comecei a explorar os meus sentimentos em relação ao momento presente e expressei-os através da imagem.

O conceito de triplicidade presente na simbologia celta serviu como guia para a estrutura da peça, dividida em três partes (Regresso, Reflexo, Movimento), representando os ciclos de transformações diários e as três extremidades do Triskle.

No primeiro ato explorei o conceito da distância com uma aproximação extrema ao objeto fotografado, buscando refletir sobre as mudanças que a minha presença pode produzir em relação ao seu entorn. Mesmo simbolizando o regresso à um ambiente conhecido o primeiro ato representa o início de um novo ciclo, um reencontro que funciona como renascer onde as relações ganham novos significados.

No segundo ato, Reflexo, tratei de construir imagens observacionais em cenários ausentes de ação humana, reduzindo minha participação na tentativa de me aproximar da essência do todo. Trata-se de um momento de introspeção.

O último ato, chamado Movimento, usa das forças naturais como o vento ou a maré para construir ação. O ritmo é marcado pela natureza, buscando representar a sua ação sobre todos nós e a existência de diferentes possibilidades quando nos permitimos confiar nos processos naturais e no seu tempo.

A peça aqui apresentada reflete sobre os sentimentos que acompanham os momentos de reencontro. Usa a natureza para representar as diferentes etapas que formam os ciclos, e incorpora elementos artificiais buscando proporcionar a traves do seu movimento, cores, sons e texturas uma experiencia sensorial.


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