Activistas, precisam-se

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Dörte Schneider Garcia

Sobre a importância da sustentabilidade no cinema

Sustentabilidade?

No que pensamos?

Ecologia?

Economia?

Sociedade, governance?

Devemos pensar nos três, pois só num conjunto equilibrado faz realmente sentido.

Se olharmos para o mundo em mudanças extremas às quais assistimos com cada vez maior frequência, a impossibilidade de nos mantermos no business as usual é demasiada evidente para ser ignorada. Muitos sectores já o sentem.

Agora: Sustentabilidade no cinema?

Qual a relação? Somos artistas, somos criativ*s, temos uma liberdade imensa... onde é que cabe aí a sustentabilidade?

Cabe em qualquer das partes. Na criação do argumento, na escolha dos lugares, na composição da equipa, na decisão sobre o equipamento, no plateau, no catering, na pós-produção – até na distribuição.

Tudo aquilo que fazemos deixa uma marca, um rasto, uma pegada.

Por esta Europa fora existem já muitos actores do chamado green shooting. Há os britânicos com o seu “Albert”, uma iniciativa dedicada a tornar produções televisivas mais amigas do ambiente. Há os franceses com a (entretanto) associação “Ecoprod” a oferecer acções de formação para as equipas. Há os finlandeses com o “Ekosetti”, há os alemães com “Green Motion”, há iniciativas pan-europeias das quais agora finalmente surgiu a muito esperada calculadora “Eureca” que permitirá poder medir e comparar a pegada ecológica de filmes produzidos em qualquer um dos países (ou vários). Existem muitos mais.

Por cá temos desde a Primavera de 2021 o “Guia Green Shooting”, lançado pela Portugal Film Commission.

E claro que Hollywood também tem um sistema seu. O “PGA Green” é uma das iniciativas mais antigas, a par do que se tem feito no Reino Unido.

A nível de financiamentos, e relacionados com objectivos muito concretos de descarbonização (tanto europeus como nacionais), começamos a assistir a exigências que obrigam as produções a serem concebidas segundo regras mais (exemplo do Green Motion na Alemanha) ou menos (exemplo dos subsídios da Europa Criativa) definidas.

A cadeia televisiva Sky exige dos seus fornecedores que sigam regras muito rígidas.

Na vizinha Espanha o sistema de pontos do ICAA, ao concorrer a financiamento, atribui maior pontuação a projectos comprometidos com medidas de sustentabilidade.

O que agora parece novo e por vezes incómodo, pois nos obriga a parar para pensar e a mudar rotinas que conhecemos e seguimos há anos, irá um dia ser a norma. O green shooting será a única maneira de produzir. Mas não passará de green washing se não dermos atenção também aos conteúdos.

Tudo aquilo que retratamos, que decidimos colocar num ecrã, numa tela, causa algo em quem vê.

Olhemos tanto para como fazemos filmes como o que contamos neles.

Agora – se fizermos isto sem olhar para a parte social e humana, a pensar nas condições de trabalho das equipas, no work-life-balance, pouco sentido faz.

Se prestarmos atenção às partes ecológicas e sociais, mas negligenciamos a parte económica, também não é viável. Há que olhar (e mudar!) o sistema todo.

O mundo em que vivemos (e no que queremos subsistir enquanto espécie) precisa de activistas. E isto inclui o meio audiovisual.


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