O Panorama do Congo - Desenrolar o Passado através da Realidade Virtual
Em 1911, o Ministério das Colónias da Bélgica encomendou aos pintores Paul Mathieu (1872-1932) e Alfred Bastien (1873-1955) um Panorama com 115 metros de comprimento por 14 metros de altura.
O objetivo era apresentar os territórios do Congo Belga aos visitantes da Exposição Internacional de Ghent, em 1913. Esta encomenda foi feita apenas cinco anos após a transição para o Estado belga dos territórios particulares do Rei Leopoldo II no Congo, conhecidos como o ‘Estado Livre do Congo’ (1877-1908).
Por esta altura, o Estado Livre do Congo foi denunciado internacionalmente por atrocidades contra o povo Congolês, tais como trabalho forçado, mutilações, execuções e deslocamentos massivos. Relatórios como o de Roger Casement, diplomata Britânico de origem Irlandesa, contribuíram para este alerta. O Congo viria a tornar-se independente apenas em 1960.
O Panorama do Congo é uma grande pintura circular para ser vista a partir de uma plataforma central e proporcionar uma experiência imersiva.
A pintura representa as paisagens de um ‘Éden Africano’, destacando os principais investimentos belgas em obras públicas, tais como os caminhos de ferro. O tamanho do Panorama do Congo é proporcional ao escândalo originado pelas várias denúncias da violência sobre os congoleses alguns anos antes, e que o Estado belga assim quis apagar.
Por toda a sua controvérsia, o Panorama do Congo ficou esquecido nas reservas de museus durante quase um século. Profundamente conotado com a propaganda colonial, pode agora ser considerado património sensível.
Esta exposição decorre de um projeto de investigação (CONGO-VR — FilmEU RIT), que tem como objetivo fotografar e recriar o Panorama através da Realidade Virtual, trazendo-o para os debates da descolonização e do pensamento decolonial. Conscientes de que a descolonização é um processo a longo prazo, a exposição apresentará algumas das etapas deste projeto: o levantamento fotográfico desta enorme pintura; a investigação histórica e artística sobre a produção da imagem e do seu dispositivo; e uma reencenação em Realidade Virtual do Panorama do Congo que servirá de palco para debates e intervenções de artistas da diáspora congolesa, tais como Kongo Astronauts (Eléonore Hellio & Michel Ekeba), Deogracias Kihalu, Lukah Katangila, Hadassa Ngamba, Castélie Yalombo.
O MUHNAC-ULISBOA tem o prazer de apresentar esta exposição, que se enquadra no seu programa de reflexão e problematização de questões relacionadas com o património, a memória e a identidade coloniais.
Congo VR é o acrónimo do projeto de investigação ‘Decolonising the Panorama of Congo: A Virtual Heritage Artistic Research’, FILMEU_RIT - Research | Innovation | Transformation project, European Union GRANT_NUMBER: H2020-IBA-SwafS-Support-2-2020.
Curadores:
- Leen Engelen
- Victor Flores
- Linda King
- Ana David Mendes