Animação em 2030
Futuro da animação
Paulo Viveiros
- Head of the Graduation Course in Digital Animation at Universidade Lusófona
- paulo.viveiros@ulusofona.pt
Se pensarmos que o futuro do ensino do cinema de animação, ou melhor, da animação (para não lhe delimitar o campo de ação) dependerá do desenvolvimento tecnológico, das necessidades da indústria e das leis do mercado, a universidade estará a limitar o potencial criativo desta forma de expressão artística que cruza as artes plásticas, performativas e o cinema, numa verdadeira síntese das artes. Deste ponto de vista, a animação em 2030 será igual ao que foi em 1890 e na pré-história, ou em 3247, isto é, um campo infinito de possibilidades artísticas.
Na sua relação com a indústria do cinema, a animação será o denominador comum da imagem em movimento. Há alguns anos atrás, Lev Manovich afirmou que o cinema seria no século XXI um género da animação, por estar cada vez mais dependente da criação de movimento animado, nomeadamente na pós-produção. E o que o do tempo comprovou desde então foi que isso se alargou à pré-produção com a pré-visualização. A indústria do cinema integrou na preparação dos seus projetos uma ferramenta, ou melhor, um procedimento que vem da animação - o animatic - para seduzir produtores e investidores. O animatic é usado na fase seguinte ao storyboard para corrigir falhas narrativas, planeamento e ligação de cenas antes do trabalho de animação propriamente dito. Ao contrário do cinema, um filme de animação desenvolve-se como um todo que não é possível falsear com a montagem. Um dos professores dos cursos de animação, José Miguel Ribeiro, usa uma metáfora visual para explicar isto aos alunos: “imaginem uma inundação num quarto. Todos os objetos vão balançar à tona da água em simultâneo à medida que o nível de água sobe (e o filme avança). Não se pode animar uma parte sem pensar na outra”. A pré-visualização (previz) é o equivalente do animatic na indústria do cinema, usa-se animação por computador para dar a ideia de como será o filme que se pretende realizar, num sinal claro dos tempos em que a imagem tende a suprimir o texto e que os homens de negócios leem cada vez menos porque não têm tempo a perder, portanto o guião tornou-se num elemento secundário. É preciso que o ensino da animação tenha isso em conta, um novo mercado que abre as suas portas aos animadores.
Aliado a isto, o desenvolvimento tecnológico procurará sempre softwares de animação que encurtem o tempo de produção dos projetos. Historicamente, isto foi provado entre o romantismo de Reynaud e o pragmatismo de Bray, e o que devemos aprender com esta história é não se deve desprezar a qualidade artística e o grau de experimentação, mesmo que o software nos faça parte do trabalho.
A universidade faz parte do todo, não deve ser um espaço atomizado da sociedade, mas cada um deve ter as suas características, por isso a nossa proposta de ensino está ligada ao que pensamos que a universidade deve ser no ensino da animação: um laboratório de experimentação. Misturar e criar novas técnicas, expandir continuamente o campo da animação (por exemplo na conceção de “cenário vivos” para espetáculos de teatro, música, dança, etc.) e produzir filmes a que tenhamos e desejemos regressar continuamente com o orgulho de quem fez e faz o trabalho bem feito em prol da animação, dos seus alunos e da sociedade em geral.
A nossa pedagogia é deslocar o aluno da sua zona de conforto, confrontá-lo com o desconhecido, levá-lo à aventura e para isso adotamos metodologias interativas que fazem parte da nossa formação desde sempre e que vão evoluindo devido à internacionalização da nossa formação.
A animação é uma arte com um potencial futuro enorme do ponto de vista artístico e de mercado trabalho.
Fotograma topo: "Cova, cor, carvão" de Rodrigo Rosa