Nada do que é humano
me é estranho
Perspetivas futuras no ensino das Artes e das Humanidades
Carlos Pimenta
- Diretor das licenciaturas em Artes Dramáticas
- carlos.pimenta@ulusofona.pt
O ensino das artes não pode (não poderá!) deixar de acompanhar as transformações sociais, nomeadamente aquelas que têm a ver com o crescente desenvolvimento e impacto das tecnologias.
As artes sempre foram expressão do humano e embora alguns tenham previsto um certo declínio das artes e das Humanidades, ambas são essenciais a um desenvolvimento social equilibrado.
As artes e as Humanidades iluminam a complexidade do ser humano. Ensinam-nos quem somos, o que somos, e alimentam a nossa imaginação na construção de um futuro melhor. Nesse sentido, contribuem decisivamente para a nossa garantia de liberdade e responsabilidade individual e coletiva, num tempo histórico de grande complexidade. Com efeito, temos assistido ao fim de sistemas até aqui adquiridos, à potenciação do individualismo, à fragmentação social, à manipulação de massas através das novas tecnologias, ao avanço do populismo, etc, etc. Perspetivar o futuro tem sido um desafio aceite pelo mundo académico e por pensadores em diversos domínios de especialização. Esse trabalho tem em vista corrigir erros do passado, contribuindo para uma formação responsável e humanista das novas gerações. Esta é a grande missão das instituições de ensino.
Em 2013 a Universidade de Harvard realizou um diagnóstico interno procurando equacionar o ensino das artes e humanidades no que respeita aos seus aspectos positivos e negativos. Embora o estudo seja extenso e detalhado, será importante referir sumariamente alguns dos desafios que urge considerar no futuro:
- Especialização e generalização: abrir o campo de possibilidades dentro de cada área de saber e dentro da instituição.
- Disciplinaridade e interdisciplinaridade: essencial fomentar o diálogo e troca de experiências entre disciplinas.
- Informação e interpretação (no contexto da Revolução Tecnológica da Informação): equilíbrio entre o conhecimento disponível em arquivo e as possibilidades das aprendizagens online.
- Crítica e compreensão: encorajar o debate e a opinião crítica.
- Prática das artes: fomentar a prática artística como forma de aprendizagem num contexto de experiência (ensaio e erro).
- Competências disciplinares | competências transferíveis: fomentar as transferências de capacidades (métodos de investigação, análise, etc) entre disciplinas e entre cursos.
Dispomos hoje de meios e instrumentos tecnológicos que, conforme já assinalado, transformam a grande velocidade as sociedades contemporâneas. Sendo meios poderosos, devem ser usados ao serviço do Homem e não contra ele. Tal como no início dos tempos, primeiro temos o Homem, depois a necessidade e de seguida a tecnologia.
Compreender a relação do Homem com a tecnologia, o equilíbrio que deve prevalecer nesta relação, e, perspetivá-la de uma forma responsável, devem ser os objetivos primordiais de uma educação que se situe no contexto das artes e humanidades.
Fotograma topo: rodagem "Mylissa" de Merja Maijanen, 2018